segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

[Autor do Mês] Entrevista a Carlos Reys


Como surgiu a escrita na sua vida?

Desde novo que estou habituado a registar ocorrências, género diário, e isso prolongou-se até aos dias de hoje. Paralelamente lia muito. Debruçava-me sobre assuntos técnicos devido à profissão e, por outro lado, interessando-me pelas artes plásticas, foi minha preocupação adquirir muitas obras e ler sobre a História da Arte. A escrita surgiu naturalmente. Para mim, ler e escrever são duas coisas que estão ligadas por natureza. Tanto uma como outra são motivos de prazer.



O que é que o levou a escrever este livro?

Durante anos, fui juntando escritos avulsos e textos relatando acontecimentos, pequenas histórias colhidas da realidade do dia-a-dia, comportamentos das pessoas, às vezes familiares, etc. Quando, há cerca de seis anos, surgiu a ideia de escrever o romance, percebi então que estava perante uma tarefa diferente. Habituado ao desenho do que já atingi, penso, um certo estilo, obrigava-me a um exercício melindroso. Escrever, e bem, não é nada fácil. Percebi que muitos escritores o fazem mas com muito cuidado. Fui ler sobre Género literário para perceber o que é Crónica, Conto, Novela e Romance, e estudei o método mais adequada de escrever expondo o conteúdo por forma a que o trabalho tivesse lógica e convencesse o leitor, o que era, no fundo, o meu desejo. Neste espaço de tempo interrompi a escrita durante dois anos para apostar na licenciatura em Design industrial, interrompida, mais por uma questão de auto-satisfação do que para adquirir um valor profissional (nesta idade!). Extasiado como estava com o desejar a concretização do projecto de escrita retomei-o, com mais entusiasmo, chegando à edição do livro.


Quais foram as suas referências e inspirações enquanto o escrevia?

Para responder a essa pergunta tenho que recuar no tempo. E bastante. Até à juventude! O realismo de Eça de Queiroz e a política ideológica de Jorge Amado, então, a que posso acrescentar, mais tarde, o clima aventureiro de Hemingway e a inquietação de Steinbeck e, chegando aos nossos dias, incluir José Saramago e Humberto Eco, são referências, não deixando de mencionar Gabriel García Márquez, incontornável, acrescentando agora os nossos jovens, “promessas”, que são, entre outros, João Tordo e José Luís Peixoto. Inspirações? Rudiard Kipling com o poema “Se”, porque «(…) quem comigo conta encontra sempre mais que a conta (…)». Um pouco de tudo isto me assaltou o espírito enquanto, nos momentos de solidão, lutava comigo próprio tentando conjugar as ideias que surgiam com as partes já escritas, e era necessário encontrar um fio condutor que estabelecesse a ligação com alguma coerência. Penso que me aproximei do derradeiro objectivo quando terminei “Esmeralda Cor-de-Rosa”.


Alguma vez teve medo que não funcionasse?

Foi um risco, naturalmente, expor-me através da escrita, mas estou habituado a fazê-lo, há longos anos, em exposições de artes plásticas. Medo, medo, eu não senti. Levei vários anos a amadurecer a ideia. Penso que foi uma aventura em que me meti e o meu personagem, Guilherme Esteves, participaria também, sem medo, numa aventura desta natureza.


Qual é que acha que é o público-alvo do seu livro?

No princípio não pensei nisso. Tenho percebido agora que o público feminino é o mais atento. Penso mesmo que é o que, na generalidade, lê mais em Portugal. No caso de “Esmeralda Cor-de-Rosa” não tenho dúvida nenhuma. As observações que me têm chegado são do leitor feminino. Textos de opinião publicados e comentários que me chegam, são de mulheres. “Sem querer”, o público-alvo, afinal, é o feminino.


Podemos ficar à espera de outro livro seu?

Não posso responder afirmativamente. Pretendo fazê-lo, porém, isso depende da reunião de alguns factores, alguns dos quais são, por exemplo, um conteúdo que me satisfaça – para isso terei de conjugar o que já existe escrito com o que terá de vir à imaginação – e um razoável investimento que, nos tempos de crise que atravessamos, merece ser levado em conta.


Que importância atribui à blogosfera literária?

Fiquei impressionado quando tomei contacto com o universo da blogosfera literária, o que só aconteceu depois do lançamento de “Esmeralda Cor-de-Rosa” em Outubro passado. Conhecia, de facto, o mundo da nossa Literatura, noticiado por programas da TV, pelo JL (Jornal de Letras, Artes e Ideias – e que sigo há trinta anos – que contribui, inequivocamente, para a divulgação da nossa Cultura tanto entre nós como além fronteiras) e outras revistas, mas algo eclécticas, que nos informam sobre as edições dos grandes escritores e fazem referência às grandes editoras. É, pois, com surpresa que vou tomando conhecimento da existência de centenas de blogues, na esmagadora maioria editados por jovens, mulheres, que actuam com dedicação, que lêem, lêem muito, comentam e se divertem ao mesmo tempo, e cresce em mim a noção da importante contribuição que isso representa para a divulgação da existência de pequenos escritores (por vezes “grandes”) que devem ser apoiados e encontram na blogosfera literária o veículo para a sua promoção.

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