domingo, 7 de setembro de 2014

A Mulher de Verde

Autor: Arnaldur Indridason
Edição/reimpressão: 2014
Páginas: 264
Editor: Porto Editora

Sinopse:
Há segredos que não podem ficar enterrados para sempre…
Numa encosta perto de Reiquejavique, algumas crianças brincam junto aos alicerces de uma nova casa em construção quando, de forma inesperada, encontram uma costela humana.
A mórbida descoberta leva de imediato o inspetor Erlendur e a sua equipa da polícia científica a instalarem-se no terreno, unindo esforços para desenterrar o resto do corpo secretamente sepultado e ao mesmo tempo investigar aquele estranho caso feito de contornos brutais, escondido debaixo de terra desde o período da II Guerra Mundial.
À medida que cada osso vai sendo desvendado, também a história de violência doméstica e corrupção no seio de uma família vem ao de cima, oferecendo àquele mistério sinais cada vez mais tenebrosos de que o terror pode ser coisa de gente comum.
O caso exige toda a coragem que o inspetor Erlendur possa encontrar em si, ele que, assistindo à morte lenta da própria filha toxicodependente, que depois de abortar entra num coma profundo, não pode evitar confrontar-se com as responsabilidades de ter levado, também ele, a sua família a uma degradação quase completa.


Opinião:
De vez em quando sabe-me bem pegar num bom policial e lê-lo de uma ponta à outra sem interrupções. Por isso, num dia em que o sol decidiu revoltar-se e a vontade de sair de casa era pouca (para não dizer nula), acabei por começar a ler este livro da Porto Editora que me havia chamado de imediato a atenção pela capa, não fosse eu daquelas pessoas que rapidamente julga o livro pela capa.

Uma simples festa de anos pode mudar repentinamente de tom. Especialmente se do nada o nosso bebé decide mordiscar uns ossos que se revelam humanos! Pelo menos essa é a principal desconfiança de um aluno de medicina quando vê um bebé a trincar algo. Ligando de imediato para a polícia, esta acaba por lhe confirmar que se encontrava perante um osso das costas de alguém, de alguém bem morto. Mostrando onde o corpo se encontra, começa então uma operação de diversos dias para o desenterrar e para descobrir o que ali se havia passado há diversos anos.

Para investigar o caso entra o inspetor Erlendur, um homem sério e com uma vida difícil, que acaba por se encontrar no meio não só de um novo e estranho caso mas também no meio da difícil vida da sua filha, que acabara por perder o bebé devido às drogas, estando num coma profundo. A aliar-se a isso descobre que muito do ódio que os seus filhos têm por si vêm de mentiras contadas pela mãe destes, ex-mulher do inspetor, algo que ele não estava à espera.

Mas uma investigação que inicialmente parece tratar-se de um homicídio como qualquer outro, acaba por se revelar ser mais do que isso quando a história de uma mulher começa a surgir dos escombros. Enquanto tenta descobrir a família que anteriormente teria vivido por aqueles lados, Erlendur descobre que ninguém sabia o nome da mulher que lá vivia, apenas sabiam que era vítima de maus tratos continuados pelas mãos do marido, embora naquela altura ninguém fizesse nada contra isso. Afinal de quem é o corpo encontrado? E como se relaciona com a história dessa família desconhecida?

Gostei bem mais deste livro do que estava à espera, essencialmente devido aos pequenos vislumbres que íamos tendo do passado. Este é um livro que explora de forma muito profunda a violência doméstica, especialmente a que se vivia há muitos anos atrás. Apesar de esta ser retratada como algo decorrido há mais de 50 anos, a verdade é que não pude deixar de transportar algum daquele conhecimento para os dias de hoje, quando apesar dos inúmeros avisos e apoios existentes, existem imensas pessoas que sabem de algum desses casos e simplesmente fazem orelhas moucas, ou pior, acham que está no dever de um homem disciplinar a sua esposa. Esta mentalidade é assim traduzida neste livro, sendo que essas eram as partes da narrativa que eu tinha mais prazer em acompanhar, pois apesar de fortes e cruéis, é uma realidade que acabou por ser muitíssimo bem retratada pelo autor e admito que sofri imenso com estas personagens quando descobri o que lhes era feito e também entrava em rejubilo quando algo de bom lhes acontecia.

Apesar de ter gostado mais dessas partes, também gostei de ficar a conhecer o inspetor Erlendur e a sua difícil vida familiar. O modo como sabemos que nunca esteve presente na vida dos filhos, mas que acaba por saber que algo de errado se passa quando recebe uma estranha chamada da filha. Como tem receio de encarar a ex-mulher e quando o faz é após descobrir que esta havia mentido sobre si aos filhos durante toda a vida como paga por este a ter abandonado.

Acaba por ser um livro que não se centra de forma alguma na parte policial, mas sim nas relações pessoais das suas personagens e no grande tema que é a violência doméstica. Um livro que me surpreendeu e que recomendo!

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