Lendo e Relendo…
Pelo Dr. Américo Curado
Livro: Singular Dexconhecido
Autor: Raphael Diego de Mesquita
Ed.: Corpos Editora
Nº de páginas: 64
Singular é o primeiro vocábulo que dá título á obra! ... Acho a palavra apropriada! ... Porque a singularidade começa, desde logo, por se revelar no facto de um jovem, nos seus dezassete anos, demonstrar tão grande capacidade de manejar as palavras e por elas tão longe avançar numa densidade introspectiva e de exposição de sentimentos! ... Singular ainda, pelo nível cultural que o autor aqui revela, não apenas no saber aprendido, mas sobretudo no modo como sabe manejar esse saber e dele fazer percurso na interrogação de si próprio, do mundo e do porquê existencial do homem e da sua essência cósmica! ...
Mas singular também porque o autor, nas suas duvidas, angústias, sonhos, esperanças e desesperos, não lança apenas interrogações a si próprio ou ás raízes em que se funda o destino da vida, em que, por vezes, ele se sente dramaticamente enredado! ... Quem, geronte como eu, ler este livro e sobre o seu conteúdo se der ao esforço de pensar um pouco, não poderá deixar de se sentir interpelado sobre o mundo que deixamos á juventude que hoje procura tomar em mãos o facho do futuro! ... Porque muitas das dores, dúvidas e angústias do autor, eu entendo-as não apenas suas, mas de toda a sua geração, a quem os homens do meu tempo estão a deixar, como herança, um presente de angústia e um futuro de nuvens carregadas! ...
Mas nem tudo é dúvida e incerteza neste livro! … Nele há também a vontade que desponta, o desejo que se reveste na policromia dos cambiantes primaveris, a sensualidade que brota dos corpos que entre si se descobrem! ... No fundo, a vida na plenitude das suas marcas…
Livro que revela um poeta em crescimento, mas já senhor de uma densidade lírica e um tal domínio da construção verbal, que bem podemos estar perante os primeiros ramos que despontam numa árvore que alto pode subir, e que com apetecíveis frutos pode vir a deliciar-nos! ...
Por isso, não apenas convido á sua leitura, mas ainda a verem nele, não apenas as dúvidas, as alegrias, os êxtases, as angústias e incertezas do autor, mas também as vossas! … Porque o homem é de tudo isso feito! …O homem não vive para ter, ser ou estar! …a natureza fez-nos peregrinos do nosso próprio destino, e viver é, em todo o tempo e fase etária, vencer os escolhos, exultarmo-nos com a visão de um porto de chegada e desesperamos na conclusão de que toda a chegada é apenas ponto de parida para um percurso sem fim! …Por isso, leiam, vivam a vida e sonhem-na! …Tal como o autor marca, nestes versos, a sua vontade de viver e sonhar:
Eu não quero morrer, só não quero viver amarrado aqui
Eu não quero morrer, só não quero viver assim,
Preso sem voar!...
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