sexta-feira, 29 de julho de 2011

[Autora do Mês] Entrevista a Milene Emídio

Como surgiu a escrita na tua vida?
A escrita ao nível que a colocamos hoje foi algo inesperado. Um trabalho académico que tomou outras proporções, mas se recuar até aos meus primeiros textos, lembro-me de passar horas a preencher papéis, lembro-me de ter pedido uma máquina de escrever aos meus pais não sabia muito bem para quê, sabia apenas que a queria, e lembro-me ainda de inventar muitas histórias, algumas das quais serviam de base para as minhas brincadeiras com amigos e com as bonecas. Sempre fui muito dada a livros, aprendi a ler aos cinco anos sendo que sonhava com o dia que conseguiria fazer histórias tão encantadoras como aquelas que lia. Aos 16 tentei escrever um livro, mas quando comecei a ler o que tinha achei a escrita e a consistência da história imaturas, faltavam-lhes sentimento e experiência de vida. Fiquei-me apenas por pequenas composições e trabalhos escolares. Mais tarde, já na faculdade, um professor de linguística pediu-nos um texto com determinados requisitos e eu modifiquei uns apontamentos que tinha sobre um sonho, dei-lhes um propósito e assim nasceu o conto O Vestido.


O que é que te levou a escrever este livro?
Foi mesmo a insistência do professor. No primeiro ano que tive aulas com ele apresentei-lhe aquilo que veio a tornar-se o primeiro capítulo do conto. O professor insistiu em querer ver mais e fez-me prometer que mesmo se não voltasse a ter aulas com ele, até ao fim do curso (cinco anos) teria de lho entregar no departamento porque tinha ficado bastante curioso. No quarto ano do curso voltei a tê-lo como professor, na cadeira de Oficina da Escrita, e foi então que apresentei o conto como produto final da cadeira, e foi por sugestão do professor (após correcção do mesmo) que tentei a publicação.


Quais foram as tuas referências e inspirações enquanto o escrevias?
Se avaliar bem tudo o que vivenciei em 21 anos (idade que tinha à data da publicação original do conto) as referências e inspirações são inúmeras. Tenho de salientar a minha actividade cerebral durante o sono, já que tem sido a principal motriz para as minhas histórias. Quer O Vestido, quer o projecto em que me encontro a trabalhar nasceram de sonhos que tive. Depois tenho de referir os diversos autores que tenho lido, começando com os contos da Disney e de Hans Christian Andersen até Agatha Christie, Nora Roberts, Juliet Marillier e mais recentemente Karen Marie Moning, Christine Feehan, Anne Bishop, George R.R. Martin, entre outros. Não significa que me cole ao tipo de história ou de narração por eles feita, simplesmente foram nomes que me mostram outros mundos, outras práticas, outros seres, que me fizeram sonhar ainda mais e levar a imaginação mais além.
Por fim, as pesquisas que faço, as viagens, as religiões, as culturas com que me vou cruzando, a música que ouço, os jogos de PC que tenho vindo a jogar… Tudo isto contribui para alargar horizontes e arrecadar mais umas ideias.


Foi difícil ser-se original no meio de todas as obras de fantasia que hoje em dia vemos nas livrarias?
Não sei se fui completamente original. Verdade seja dita, até à data em que publiquei a versão original d’O Vestido não tive conhecimento de outra obra que abordasse o tema de regressões / vidas passadas tão abertamente, mas acredito que existissem.
Hoje em dia não é fácil ser-se original porque já muito foi escrito ao longo dos tempos. Podemos sim dar uma roupagem nova e tentarmos colocar um cunho pessoal na história, quer seja nas personagens, quer no ambiente que criamos. Ainda há alguns espaços para preencher nesse aspecto e é aí que reside a oportunidade de inovarmos e apresentarmos algo diferente.


Alguma vez tiveste medo que não funcionasse?
Todos os dias. Ainda hoje tenho esse medo. Verdade seja dita, publiquei apenas um conto, numa editora com quem a parceria simplesmente não funcionou e em que a distribuição ao público foi deficiente. Para minimizar estragos e preparar-me para o segundo ciclo da história optei por reeditar o conto numa edição print-on-demand. A distribuição mantém as falhas (o estar disponível fisicamente em livrarias), mas colmatei a grande falha que era o preço abusivo pelo qual estavam a disponibilizar o conto. Tenho plena consciência que desta forma não se chega a um público vasto, mas também sei que é apenas um conto e que primeiramente nem tinha o intuito de ser publicado. Assim sendo, está disponível para compra, tento divulgar das formas que me são possíveis (eventos, blogs, facebook, etc) e hei-de tentar uma edição dita “normal”, mas quero fazê-lo com uma obra mais consistente, mais madura e mais complexa. E nesse ponto coloca-se novamente a questão do medo… Muito!


Qual é que achas que é o público-alvo do teu livro?
Possivelmente o jovem-adulto, se bem que tenho conhecimento de adolescentes e de seniores que leram e gostaram. Penso que cima de tudo há que gostar da vertente paranormal da história (um dos subgéneros do Fantástico).
O facto de ser um conto, consequentemente uma narrativa simples e mais pequena, facilita também a adesão de pessoas que não sejam leitores assíduos ou mesmo aquelas que confessam não gostarem muito de ler porque não têm paciência.

 
Já li que podemos ficar à espera de outro livro com o título “O Feitiço da Moura”. O que nos podes dizer sobre ele?
Que é mais uma aventura da minha Inês e do Diogo, que é o fechar do ciclo iniciado com O Vestido e que é um pouco diferente em termos de dinâmica. Neste conto optei por incluir uma lenda portuguesa, da região de Sintra para apimentar o enredo. Uma história de amor que é completamente deturpada e que se vai cruzar com uma outra mais contemporânea e que vai ter as suas consequências. Uma história de escolhas, de atitudes e de algum misticismo.

 
Já tens algum outro plano para o futuro no mundo literário, após o livro “O Feitiço da Moura”?
Sim, tenho o meu terceiro “bebé”. Uma abordagem completamente diferente do que tenho feito até à data e prevejo ainda trabalho para muitos meses, ou mesmo anos. Até agora tenho feito basicamente pesquisa e construção de personagens e lugares. Um mundo criado de raiz para o qual tive de arranjar regras, hierarquias, propósitos… Personagens que não param de aumentar de dia para dia, quando penso que tenho a história satisfatoriamente delineada reparo que há algo que tem de ser acrescentado, modificado, justificado ou simplesmente criado. Espero que o resultado seja efectivamente aquilo que tenho em mente, porque sinto que está é A História.

Que importância atribuis à blogosfera literária?
Hoje em dia é um meio de divulgação essencial. Grande parte dos leitores utilizam a internet por um ou outro motivo e saber que há ferramentas que lhes permitem ter uma apreciação, uma sinopse, um vislumbre de algo que podem vir a comprar sem se comprometerem à priori é extremamente vantajoso. Evitam alguns dissabores e os autores acabam por ter uma notoriedade maior, visto que podem ser pesquisados e conhecidos através de alguns cliques ou uma pesquisa simples num motor de busca. Os blogs tornaram-se cada vez mais importantes para os autores por serem uma ferramenta de marketing barata, fácil e acessível a quase todos. Além de permitir obter feedback de forma muito mais rápida e possivelmente real do que aquela que nos chega pelas editoras ou a conta-gotas em alguns eventos (não menosprezando os mesmos que são bastante importantes).

1 devaneios:

isa disse...

fiquei curiosa acerca do livro e gostava de participar no sorteio, como tal vim ler a entrevista e fiquei ainda mais curiosa para ler este livro :)
vou ter de me inspirar para o sorteio
beijinhos e bom fim de semana

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