Prefácio
Um ano após a publicação de Palavras Nossas Volume I,
que deu a conhecer trinta “novos poetas” ao país, eis que aparece já Palavras
Nossas Volume II, com vinte “novos poetas” para Portugal conhecer.
Foi como muita satisfação e outra tanta dose de empenho
e dedicação que abracei a coordenação de Palavras Nossas, cuja razão principal
de ser consiste em dar a conhecer poetas que publicam pela primeira vez os seus
poemas, poemas quase sempre escritos sem pensar na publicação, poemas tantas
vezes escritos para não ser dados a conhecer, a não ser num grupo muito
restrito de familiares e amigos, poemas, dizia eu, que até aqui estavam
guardados no baú das coisas significativas e significantes dos seus autores, ou
então que tinham apenas sido postos a circular por entre as “redes sociais”,
poemas que, enfim, os seus autores escreveram e só eles poderão dizer como,
porquê, ou para quê.
Naturalmente, é também com alguma dose de orgulho, não
tanto por mim, mas mais pelos “novos poetas” que aqui se dão a conhecer pela
primeira vez ao país – daí o epíteto de “novos poetas” –, que vejo este
projecto concluído com êxito.
E ontem, como hoje, levantam-se as mesmas
circunstâncias…
Ao mesmo tempo que a obra poética parece definhar sob a
ameaça da falta de leitores e das regras editoriais, aqui, como em todo o lado,
cada vez mais controladas e comprometidas com as apertadas exigências da
rentabilidade e do lucro que expulsa os livros de poesia das livrarias, os
poetas insistem…
Ao mesmo tempo que a obra poética parece fadada a morrer
por virtude das exigências pragmáticas de um “mundo desencantado” – de onde,
segundo a fórmula do grande poeta alemão Friedrich Hölderlin [1770-1843], “os
deuses se retiraram” –, cada vez mais dominado por uma racionalidade científica
e económica que se estende sobre todas as esferas da vida humana e transforma a
cultura num mero jogo de aparências fugazes e efémeras, ligadas à diversão e ao
entretenimento, os poetas resistem e persistem…
E ontem, como hoje, levantam-se as mesmas questões…
Tratar-se-á de viver ou de sobreviver? Tratar-se-á de
quê, afinal? Proponho que cada um resolva por si próprio as questões, porque
aquilo que se passa hoje com a poesia – e não será uma questão recorrente e
persistente, que se arrasta no tempo? – não difere em nada da nossa própria
situação real e existencial.
“Para quê os poetas, em tempo de indigência?”,
perguntava já Hölderlin na sétima estrofe da sua celebérrima elegia “Pão e
Vinho”, uma pergunta que desde então nunca mais deixou de ecoar sob o panorama
da poesia moderna. Para que é que serve a poesia?, poderíamos perguntar nós,
ainda hoje.
Palavras Nossas Volume I não responde a nenhuma das
questões levantadas. Tampouco o faz agora o Volume II. Pelo menos não o fazem
de forma frontal e directa. Mas também não é esse o objectivo.
Publicar poesia nos dias de hoje, arriscar publicar
poesia nos dias que correm – porque é de risco que aqui se trata – é ter a
coragem de sonhar e de lutar pela realização do nosso próprio sonho. Vivemos?
Sobrevivemos? Eu diria antes que somos e, porque somos, sonhamos.
Para que é que serve a poesia hoje? Eu perguntaria
antes: porque é que ainda há quem faça poesia hoje? E, mais uma vez, a resposta
reconduz-me ao sonho. Contra todas as circunstâncias reais, nós, os poetas,
continuamos a sonhar; contra todas as dificuldades do presente, nós, os poetas,
ainda temos a coragem de querer continuar a sonhar.
Palavras Nossas Volume II é uma “obra comum”, que nasce
da capacidade de sonhar. É uma Colectânea de Novos Poetas Portugueses, que aqui
assumem a coragem de sonhar e de querer continuar a revelar os seus próprios
sonhos. Mas Palavras Nossas Volume II também é fruto da ousadia da Esfera do
Caos Editores, que agora viabiliza a realização dos sonhos de vinte “novos
poetas”, que aqui se vêem publicados pela primeira vez.
“Deus quer, o homem sonha e a obra avança”, deixou-nos
Fernando Pessoa em legado, numa mensagem que ainda hoje continuo a encarar como
sendo de encorajamento a sonhar e a lutar sempre pela realização do nosso
próprio sonho. “Pelo sonho é que vamos, comovidos e mudos”, dizia-nos também
Sebastião da Gama, num poema fantástico, que, a meu ver, sintetiza o essencial
do espírito de Palavras Nossas Volume II e de todos aqueles se viram envolvidos
na realização deste corajoso projecto literário.
Miguel Almeida
Costa de Caparica, 4 de Outubro de 2012. — com Maria
Madalena Santos, Manoel Hélio, Tina Dores, Palavras Poesia, Maria
Silveria Martires, Amo Poesia, Poesia E Outros Escritos, Jorge Nuno, Clube Dos
Escritores Portugueses, Marta Limbado Limbado, Vitor
Fernandes, Poesia Encontrada, Teresa
Almeida, Ana
Chessa, Maria
Luisa Silva, Maria Gomes, Fernanda
Freitas, Manuel
Rosa, Ana Maria Calado, Voar Na
Poesia, Rúben De Brito, Poesia de
Vida, Acácio Costa,
Manuela Simão Pombo, João
Pedro Duarte, Maria De Lurdes Cunha, Manuela Silva, Isaura
Moreira, Jorge Treno Corvanjo, Jorge Reis-Sá, Antonio
Atalaia, Anya Pinheiro,
Carlos Palhau, Arnaldo
Santos, Ana Rita Leone e Céu Biscaia.
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