sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Livro "Palavras Nossas - Colectânea de Novos Poetas Portugueses, Volume II", a 23 de novembro nas livrarias


Prefácio
Um ano após a publicação de Palavras Nossas Volume I, que deu a conhecer trinta “novos poetas” ao país, eis que aparece já Palavras Nossas Volume II, com vinte “novos poetas” para Portugal conhecer. 
Foi como muita satisfação e outra tanta dose de empenho e dedicação que abracei a coordenação de Palavras Nossas, cuja razão principal de ser consiste em dar a conhecer poetas que publicam pela primeira vez os seus poemas, poemas quase sempre escritos sem pensar na publicação, poemas tantas vezes escritos para não ser dados a conhecer, a não ser num grupo muito restrito de familiares e amigos, poemas, dizia eu, que até aqui estavam guardados no baú das coisas significativas e significantes dos seus autores, ou então que tinham apenas sido postos a circular por entre as “redes sociais”, poemas que, enfim, os seus autores escreveram e só eles poderão dizer como, porquê, ou para quê. 
Naturalmente, é também com alguma dose de orgulho, não tanto por mim, mas mais pelos “novos poetas” que aqui se dão a conhecer pela primeira vez ao país – daí o epíteto de “novos poetas” –, que vejo este projecto concluído com êxito.
E ontem, como hoje, levantam-se as mesmas circunstâncias… 
Ao mesmo tempo que a obra poética parece definhar sob a ameaça da falta de leitores e das regras editoriais, aqui, como em todo o lado, cada vez mais controladas e comprometidas com as apertadas exigências da rentabilidade e do lucro que expulsa os livros de poesia das livrarias, os poetas insistem…
Ao mesmo tempo que a obra poética parece fadada a morrer por virtude das exigências pragmáticas de um “mundo desencantado” – de onde, segundo a fórmula do grande poeta alemão Friedrich Hölderlin [1770-1843], “os deuses se retiraram” –, cada vez mais dominado por uma racionalidade científica e económica que se estende sobre todas as esferas da vida humana e transforma a cultura num mero jogo de aparências fugazes e efémeras, ligadas à diversão e ao entretenimento, os poetas resistem e persistem…
E ontem, como hoje, levantam-se as mesmas questões… 
Tratar-se-á de viver ou de sobreviver? Tratar-se-á de quê, afinal? Proponho que cada um resolva por si próprio as questões, porque aquilo que se passa hoje com a poesia – e não será uma questão recorrente e persistente, que se arrasta no tempo? – não difere em nada da nossa própria situação real e existencial.
“Para quê os poetas, em tempo de indigência?”, perguntava já Hölderlin na sétima estrofe da sua celebérrima elegia “Pão e Vinho”, uma pergunta que desde então nunca mais deixou de ecoar sob o panorama da poesia moderna. Para que é que serve a poesia?, poderíamos perguntar nós, ainda hoje. 
Palavras Nossas Volume I não responde a nenhuma das questões levantadas. Tampouco o faz agora o Volume II. Pelo menos não o fazem de forma frontal e directa. Mas também não é esse o objectivo.
Publicar poesia nos dias de hoje, arriscar publicar poesia nos dias que correm – porque é de risco que aqui se trata – é ter a coragem de sonhar e de lutar pela realização do nosso próprio sonho. Vivemos? Sobrevivemos? Eu diria antes que somos e, porque somos, sonhamos. 
Para que é que serve a poesia hoje? Eu perguntaria antes: porque é que ainda há quem faça poesia hoje? E, mais uma vez, a resposta reconduz-me ao sonho. Contra todas as circunstâncias reais, nós, os poetas, continuamos a sonhar; contra todas as dificuldades do presente, nós, os poetas, ainda temos a coragem de querer continuar a sonhar.
Palavras Nossas Volume II é uma “obra comum”, que nasce da capacidade de sonhar. É uma Colectânea de Novos Poetas Portugueses, que aqui assumem a coragem de sonhar e de querer continuar a revelar os seus próprios sonhos. Mas Palavras Nossas Volume II também é fruto da ousadia da Esfera do Caos Editores, que agora viabiliza a realização dos sonhos de vinte “novos poetas”, que aqui se vêem publicados pela primeira vez.
“Deus quer, o homem sonha e a obra avança”, deixou-nos Fernando Pessoa em legado, numa mensagem que ainda hoje continuo a encarar como sendo de encorajamento a sonhar e a lutar sempre pela realização do nosso próprio sonho. “Pelo sonho é que vamos, comovidos e mudos”, dizia-nos também Sebastião da Gama, num poema fantástico, que, a meu ver, sintetiza o essencial do espírito de Palavras Nossas Volume II e de todos aqueles se viram envolvidos na realização deste corajoso projecto literário.

Miguel Almeida

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