terça-feira, 12 de agosto de 2014

[Especial 4º Aniversário] Entrevista a Jéssica Rocha


Tendo apenas 19 anos, Jéssica Rocha publicou o seu primeiro livro "Lar, Doce Lar" pela Editora Alfarroba. Estudante do curso de Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social, garante que irá continuar a escrever, não conseguido "(...) estar sem escrever, sem imaginar novos enredos e novas situações para novas histórias.".

Como surgiu a escrita na tua vida?
Antes de começar propriamente a escrever as minhas histórias, e como lia bastante já aos 11 e 12 anos, comecei por reinventar finais de alguns livros que lia, como os da colecção “Os Cinco”. Foi precisamente com um desses, cujo final não me agradou, que surgiu o primeiro impulso para o transformar, porque decidi que podia reescrevê-lo só para mim... essa foi a primeira experiência, mas já só nos 12 anos avançados e nos 13 é que comecei realmente a inventar enredos do princípio ao fim, a criar as minhas próprias personagens, a ser capaz de lhes atribuir características sem estar presa às de outras que já existissem e tivessem sido criadas por outros autores. A partir daí, não consegui parar.

O que é que te levou a escrever este livro?
A ideia inicial para o Lar, Doce Lar surgiu quando eu já tinha alcançado os 15 anos e já olhava para a realidade de uma maneira um bocadinho diferente. Até aí tinha escrito histórias muito fantasiadas, basicamente aquelas com que cada menina sonha naquela fase da vida, mas aos 15 já começava a ler livros mais reais, a ver filmes e séries que me inspiravam de outra maneira, por isso surgiu a vontade de criar uma história mais adulta, com mais “cabeça, tronco e membros”, e que falasse de temas mais fortes e mais próprios “do mundo dos adultos”. Foi, até à altura, o livro que me deu mais trabalho a escrever, que demorou mais tempo e que incluiu mais pesquisa dos factos de que estava a tratar, porque gosto sempre de criar enredos o mais próximos possível à realidade, mesmo que não se passem em Portugal e sim em lugares onde nunca fui, por isso pesquiso sempre imenso sobre o local onde vou criar a história, sobre os hábitos de vida e as tradições desses sítios, e, neste caso, também procurei informar-me bastante sobre o mundo das drogas, uma vez que esse é um elemento importante no livro.

Quais foram as tuas referências e inspirações enquanto escrevias?
Posso afirmar que uma das maiores inspirações foi um livro que tinha acabado de ler pouco antes de começar o Lar, Doce Lar, e que ainda hoje é um dos meus livros preferidos: Os Filhos da Droga, de Christiane F. Tem uma história muito profunda e muito potente a nível de sentimentos e lições de vida, e quando terminei de o ler senti que aquele mundo me tinha fascinado tanto que gostaria de poder incluir uma parte da visão que tinha dele numa história minha... além disso, também andava a ver alguns filmes e séries do género policial, e tudo isso me ajudou a construir uma ideia. Depois foi uma questão de a desenvolver, de inventar personagens que tentei que não se assemelhassem em demasia a outras já existentes, e de tentar que soasse minimamente credível. O romance é sempre uma parte importante, e quanto a essas lições, para além das que tinha das pessoas que me rodeavam, também tenho como referência um dos meus autores preferidos na altura, Nicolas Sparks. Eu devorava os livros dele, uns atrás dos outros, e acabei por desejar que o meu livro tivesse uma parte romântica tão cativante como os dele.

Identificas-te em alguma das personagens? E tens alguma que te é mais querida?
Quanto a identificar-me em alguma das personagens, não o consigo fazer por completo, mas há, sem dúvida, uma parte de mim na personalidade da protagonista, a Rachel. Não na história de vida dela, nem na maioria das acções que tomou, mas na maneira de olhar para as pessoas que a rodeiam, como o irmão, a cunhada e as novas pessoas que vai conhecer quando chegar a Moore. Eu também tenho um irmão – mais novo no meu caso, e não mais velho como o Mark é em relação à Rachel – e consegui inspirar-me no modo como olho para ele e transpô-lo para a relação dos personagens, mas além disso não peguei realmente em características de ninguém que conheça para criar uma personagem que lhes fosse completamente fiel. Existem certas parecenças com algumas, claro, mas não foi minha intenção inventá-las à imagem de alguém que já exista. Aliás, muitas das decisões que a Rachel toma eu não me imaginaria a tomar, mas tenho verificado que várias pessoas que já leram o livro afirmam que conseguem relacioná-la facilmente comigo.
Quanto a ter uma personagem mais querida, é muito difícil escolher de entre elas, uma vez que as criei todas com o mesmo empenho e carinho, mas se tivesse de eleger pelo menos uma feminina e uma masculina, as minhas escolhas recairíam sobre a Rachel e o Jerrod. A Rachel porque é sob a sua visão que acompanhamos toda a história e são com os seus sentimentos com que nos identificamos e as suas escolhas que vamos apoiar ou não, e foi a personagem à qual dei mais de mim, e o Jerrod porque eu sempre tive uma maior queda pelos “maus rapazes” das histórias. É muito mais divertido criar um personagem que tenha uma aura má e tentar torná-lo, ainda assim, cativante para o público, e com o Jerrod penso que consegui isso mesmo. Ele não é um verdadeiro vilão, claro que não, mas o seu passado e as suas atitudes do presente foram um óptimo desafio de escrever, por isso ele é um dos meus preferidos.

Tens alguns hábitos “estranhos” enquanto escreves?
Não sei se se poderão classificar como “estranhos”, mas não consigo escrever sem estar a ouvir música e sem estar sozinha nalgum lugar. A proximidade a outras pessoas distrai-me, e a música ajuda-me a entrar no espírito de cada cena, mais divertida ou mais tensa, por isso tenho sempre uma playlist associada a cada personagem e a cada momento para me inspirar melhor para escrever. Além disto, se estivermos no Inverno, não há nada melhor do que ter uma chávena de chá preto bem quente ao pé de mim enquanto estou a escrever. Adoro a bebida e mantém-me cheia de energia para continuar a escrever!

Qual é que achas que é o público-alvo do teu livro?
Apesar de não ser restritivo para esta faixa etária, acho que o livro será mais cativante para os jovens adultos e adultos, pela temática e pelo modo como a história é contada.

Sei que tens 19 anos. Achas que as pessoas poderão julgar o livro sabendo que és uma nova autora, ainda jovem?
Talvez o façam, talvez não... como o livro foi editado este ano, as pessoas não imaginam que eu o escrevi aos 15, e quando o descobrem ainda ficam mais surpreendidas. Claro que entretanto o livro foi revisto e algumas cenas foram alteradas, mas o núcleo mantém-se o mesmo, por isso poderá haver quem julgue estranho que uma história destas fosse imaginada por uma jovem de 15 anos. Muitos poderão julgar a história imaginando qual a minha experiência de vida e a minha mentalidade na altura em que o escrevi, mas acho que não é necessário que o façam. Aliás, acho que haverá também muitas impressões positivas, porque, até agora, não conheço muitos jovens que se dediquem à escrita e tenham gosto nela desde tão novos, por isso acho que o público também ficará agradado pela mudança e pela novidade.

O que esperas que as pessoas retirem do teu livro?
Acima de tudo, que a vida é feita de segundas oportunidades e de recomeços, e que o perdão é importante. Tudo isto, de certa forma, está concentrado no caminho que a Rachel percorre. Ela teve um passado muito complicado, e que talvez a pudesse ter levado a baixar os braços e a fechar o coração, impedindo-a de desenvolver novas relações com outras pessoas e de voltar a acreditar que podia ser feliz, mas a maneira como a história é conduzida mostra o contrário e dá-lhe novas oportunidades, e novos dilemas, que ela terá de ser capaz de ultrapassar. E mostra igualmente que fazermos as pazes com o nosso passado e dar a nós mesmos a oportunidade de seguirmos em frente também é essencial. Isto não foi tão linear em relação aos outros personagens, mas isso mostra que a vida não é um conto de fadas onde tudo termina sempre bem.

Estás a trabalhar em algum novo projecto?
Estou sempre a trabalhar em novos projectos, muitas vezes em simultâneo! Não consigo estar sem escrever, sem imaginar novos enredos e novas situações para novas histórias. Se passar muito tempo sem poder dedicar-me a um dos meus livros começo mesmo a sentir-me mal! Por vezes, durante as épocas de maior frequência de testes e exames na Faculdade, torna-se mais difícil arranjar tempo para me dedicar à escrita, mas quando não há nada de muito importante que necessite da minha concentração, aproveito sempre para escrever o mais que possa. Neste momento estou a dedicar-me a algo diferente do que tenho escrito até agora, a criar uma história passada pela primeira vez em Portugal... logo veremos se chegará à luz do dia ou não!

Que importância atribuis à blogosfera literária?
Acho que é cada vez mais importante. Hoje em dia vivemos na era das novas tecnologias, num mundo em constante expansão e diversificação, e as redes sociais e os blogs literários tornaram-se óptimas plataformas para dar maior relevância a novos livros, filmes, séries ou quaisquer outros assuntos acerca dos quais os fãs queiram dar as suas opiniões. A blogosfera literária propriamente dita tornou-se um espaço onde os novos autores poderão, na minha opinião, tornar-se mais facilmente próximos do público. Hoje em dia alguém que leia um livro pouco conhecido poderá fazer uma análise do mesmo, um comentário ou simplesmente chamar a atenção para ele no Facebook e nas outras redes sociais, ou num blog pessoal ou geral, e logo mais pessoas ficarão a saber da história e poderão interessar-se por ler também, o que ajuda a tornar a obra e o autor mais conhecidos.

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