terça-feira, 8 de outubro de 2013

Entrevista a Paulo Neto


Fala-nos um pouco sobre ti.
Chamo-me Paulo Neto, tenho 33 anos, sou natural de Torres Novas onde resido. Sou licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Franceses e Ingleses) pela Universidade de Coimbra. Entre os meus feitos, além da edição do meu livro, orgulho-me de ter sido escolhido para um estágio de Tradução no Parlamento Europeu no Luxemburgo em 2009 e para representar Portugal na Sessão de Jovens Participantes da Academia Olímpica Internacional na Grécia no passado mês de Junho.

Como entrou a escrita no teu dia a dia? 
Sempre tive grande imaginação para inventar histórias. As composições eram uma das coisas que eu mais gostava de fazer na escola, sobretudo sobre temas que me permitissem dar largas à minha imaginação mirabolante.
A primeira vez que tentei escrever um livro foi aos 15 anos e desde então sempre que tinha alguma ideia para um livro, comprava um caderno e desatava a escrever. A maioria das vezes não fui capaz de concluir essas ideias e as que concluí não me satisfaziam. No entanto, esses processos, a par de outros como escrever pequenas histórias e poemas e ler os mais diversos tipos de literatura, ajudaram a que a minha escrita fosse evoluindo. Mas assim que comecei a escrever o meu romance "Motivos Para Sorrir" pressenti desde logo que estava a criar algo que poderia ser materializado em livro.

Como te sentiste ao tornares-te um autor publicado?
Assim que concluí o livro e fiz as primeiras revisões, comecei a enviar para várias editoras. Fiquei bastante satisfeito quando obtive duas propostas de edição, tendo optado pela a da Chiado Editora. Obviamente que fiquei felicíssimo por saber que este meu grande sonho estava prestes a concretizar-se. Porém, só quando vi os exemplares do meu livro no dia da apresentação, trazendo nas suas páginas as palavras que durante tanto tempo estiveram limitadas ao ecrã do meu computador é que me apercebi mesmo que tinha facto realizado um sonho. E a partir de então, aquilo que escrevi deixou de ser meu e passou a ser de quem leu ou vai ler.

Identificas-te em algumas das tuas personagens?
Alguns dos meus familiares disseram-me que reconheceram muito de mim em alguns detalhes do livro, e creio que é inevitável que um autor deixe sempre um pouco de si em tudo aquilo que escreve. No entanto, uma das melhores coisas em criar personagens é a possibilidade de sermos alguém diferente de nós, ou aquilo que gostaríamos de ser e vivenciarmos aquilo que gostaríamos de ter experimentado. Um dos meus principais prazeres ao longo da escrita do livro, uma vez que contém os pontos de vistas das oito personagens principais, era poder "vestir" outras tantas peles e poder ser à vez alguém diferente do que eu sou: ou mais corajoso, ou mais cobarde, ou mais ponderado, ou mais irreflectido...Por razões óbvias, trabalhar nos pontos de vista das personagens femininas foi-me particularmente difícil mas bastante estimulante. Mas também é certo que em cada uma das vozes do livro é possível encontrar uma boa parte daquilo que sou e daquilo em que acredito.

Quais são as tuas referências e inspirações enquanto escreves?
Além de ter hábitos de leitura desde criança, a minha licenciatura proporcionou-me descobrir vários nomes da literatura francófona e anglo-saxónica (por exemplo Shakespeare, Flaubert, Zola, John Updike) e gosto de diversificar as minhas leituras. Contudo, tenho que admitir que a minha principal referência quanto à minha escrita virá de nomes associados ao rótulo de literatura light ou comercial (rótulos esses que acho injustos e preconceituosos, uma vez que todo os tipos de literatura têm bons e maus exemplos) como Nora Roberts, Francisco Salgueiro e Margarida Rebelo Pinto. Por exemplo, admito que a MRP foi uma influência no facto de eu querer contar uma história sobre a perspectiva de várias personagens.
A minha inspiração principal para o "Motivos Para Sorrir" foi curiosamente um reality-show australiano chamado "The Block", exibido no antigo canal "People & Arts" (actual TLC) sob o título de "Entre 4 Paredes" e mais tarde na SIC Mulher com o título "A Melhor Renovação". Nesse programa, quatro casais têm de renovar um prédio de ruínas em quatro apartamentos. Os casais da primeira edição do programa, pelas suas particularidades e diferentes dinâmicas, suscitaram-me bastante interesse e ao imaginar uma história sobre as diferentes relações entre casais, tomei esses concorrentes como ponto de partida para a minha história. Obviamente que apesar de alguns pontos em comum entre esses australianos de carne e osso e as personagens do livro, não quis fazer simples decalques portugueses dos primeiros mas sim inspirar-me nas suas características para escrever uma história que reflectisse sobre as várias problemáticas de uma vida a dois e também falar de temas da nossa sociedade como a homossexualidade, a pedofilia, o papel dos géneros e as relações familiares.

Qual é que achas que é o papel da blogosfera em geral na divulgação literária?
Dada a importância da internet, devido à rapidez e acessibilidade, na descoberta, promoção e divulgação de talentos em tantas áreas (música, humor, literatura), é evidente que a blogosfera terá um papel bastante importante para divulgar as obras e os autores, muitos dos quais possivelmente não teriam outra forma de verem o seu trabalho difundido de forma tão abrangente. No meu caso, fiquei particularmente feliz com o facto de o "Bloco de Devaneios" ter promovido um passatempo com o meu livro.
Já agora, aproveito para dizer que eu tenho o meu próprio blogue "Estou-me Nas Tintas": http://estoume-nastintas.blogspot.pt/ onde escrevo short stories, poemas e tudo aquilo que mais me apetecer, apenas pelo simples prazer de escrever e colaboro activamente no blogue "Enciclopédia de Cromos": http://enciclopediadecromos.blogspot.pt/ onde eu e outros autores falam de várias memórias da década de 70, 80 e 90, nomeadamente a nível de televisão, música e cinema.

Tens recebido feedbacks dos teus leitores na descoberta da tua escrita?
Até agora, o feedback tem sido muito positivo, o que me deixa bastante feliz, pois sempre acreditei que estava a escrever algo que pudesse tocar as pessoas. Apesar de valorizar imenso as opiniões da minha família e amigos, os elogios de desconhecido ou de quem me não conhecia bem foram particularmente estimulantes.

Tens algum plano literário para o futuro?
Planos e ideias literárias nunca me faltam e continuo a transpôr várias ideias para o Microsoft Word, deixando guiar-me pelos seus rumos. A minha experiência até agora diz-me para dar tempo ao tempo, para deixar-me guiar a inspiração e saber quais as ideias que devo prosseguir e aquelas que devo abandonar. Seja como for, e mesmo que nunca mais publique nenhum livro (espero que não seja esse o caso), não consigo imaginar a minha vida sem a escrita e creio que é algo que irei fazer para toda a vida.

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