sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Entrevista a Fernando Pessanha

 
Fale-nos um pouco sobre si.
É sempre desconfortável e potencialmente pretensioso falarmos de nós. Prefiro que sejam os livros e a música a fazê-lo por mim.

Como entrou a escrita no seu dia-a-dia?
Sorrateiramente. Escrevo para mim desde tenra idade, sem qualquer tipo de aspiração literária. Comecei a escrever contos em criança. Curiosamente, a minha professora da escola primária – pessoa de suspeitas capacidades pedagógicas - rasgava as minhas composições alegando terem sido preparadas em casa, pelos meus pais… O acto de escrever passou a ser mais frequente e consistente durante os tempos da universidade. A licenciatura em Património Cultural e o mestrado em História do Algarve – cursos de letras - implicaram, desde logo, uma atenção redobrada para com a escrita, não estivéssemos a falar de ciências humanas e sociais… A literatura de ficção surgiu como escape à investigação e produção historiográfica.

Como se sentiu ao tornar-se, pela primeira vez, um autor publicado? E quando teve o apoio da Coolbooks, a chancela de ebooks da Porto Editora?
É sempre uma emoção ver o primeiro livro publicado. No meu caso, foi a 4Águas Edições, através da chancela Edições Mandil, que publicou o meu primeiro trabalho: A Cidade Islâmica de Faro. Foi um trabalho que visou assinalar os 1300 anos do início do domínio islâmico na capital do Algarve e que teve o apoio da Direcção Regional da Cultura do Algarve, Câmara Municipal de Faro e da Associação Faro 1540. Lembro-me da grande satisfação que senti quando o Fernando Esteves Pinto, o editor da 4Águas, mostrou-me o livro no regresso da sua participação num congresso internacional de literatura ibero-americana. Na altura nunca poderia imaginar que, nos anos seguintes, seria eu - com a sua ajuda - a apresentar o Encontros Improváveis e o Hotel Anaidaug em congressos internacionais de literatura ibero-americana, nomeadamente, no Edita Lisboa / Punta Umbria e no Salón del Libro Iberoamericano de Huelva…
No que se refere à Coolbooks, o contacto surgiu aquando da ideia para a criação de uma chancela digital para a Porto Editora. O Pianista e a Cantora foi uma das seis primeiras obras a serem editadas pela nova chancela e permaneceu durante algumas semanas no TOP 10 de eBooks, da Wook. Presentemente encontra-se a ser apresentado, havendo já um conjunto de sessões marcadas para Portugal e Espanha. A próxima apresentação será já no próximo dia 25 de Setembro, na Biblioteca Provincial de Huelva (Andaluzia), estando a apresentação a cargo do escritor espanhol Diego Mesa, o coordenador da Aula José Saramago.

Identifica-se com alguma das suas personagens?
É uma pergunta curiosa e de difícil resposta. Identifico-me, em certa parte, com todas… e, por outro lado, não me identifico com nenhuma. Lembro-me de uma observação feita por José Bivar aquando do ciclo de apresentações do Encontros Improváveis. Segundo o supracitado, todas as personagens do livro eram, no fundo, alter egos meus. Na altura achei aquele comentário muito interessante e até me imaginei a falar dessas personagens, deitado no divã do consultório da Drª Cláudia Fontana, a psicóloga (personagem) desse livro… Talvez um dia escreva uma estória sobre esse encontro improvável…

Quais são as suas referências e inspirações enquanto escreve?
A inspiração é o mundo que nos rodeia. Nós somos fruto das experiências e da matéria empírica que nos corporiza e isso acaba, inevitavelmente, por reflectir-se na produção literária. No meu caso, particularmente, a História e a música assumem papéis preponderantes, pois a minha condição de Historiador e pianista assim o determina. Não são, portanto, inocentes as referências musicais em livros como O Pianista e a Cantora, Hotel Anaidaug ou Encontros Improváveis. Numa entrevista feita pela Canal Sonora, perguntavam-me se eu seria um escritor diferente se não fosse músico. Na altura respondi que para um músico torna-se relativamente fácil descrever estados de espírito e ambientes recorrendo à linguagem musical. Uma imagem pode traduzir mil palavras. O mesmo acontece com o som… Quanto a referências literárias, são tantas que se torna difícil enunciá-las. De Franz Kafka a Henry Miller, de Sandor Marai a Philip Roth, de Paul Bowles a Allan Poe… são tantos os escritores que me marcaram que seria injusto enumerá-los.

Qual é que acha que é o papel da blogosfera em geral na divulgação literária?
Pergunta difícil. Eu próprio tenho um Blog, Intento Memoriam, onde pontualmente partilho alguns dos artigos de carácter historiográfico que vou publicando nos órgãos de comunicação algarvios. Porém, confesso que não lhe dou grande atenção nem sou grande entendido nem conhecedor da blogosfera. Seja como for, tenho a impressão que é muito difícil conseguir “tempo de antena” em blogs dedicados à crítica literária e que nem sempre as apreciações tecidas às obras são as mais justas.

Tem recebido feedback dos seus leitores, tanto do livro lançado pela Coolbooks como dos restantes escritos por si?
Sim, por vezes recebo feedback por parte dos leitores. A página de O Pianista e a Cantora, na wook, está cheia de comentários calorosos, o que é para mim motivo de grande regozijo. No que se refere à História também não me posso queixar. Ainda há pouco tempo, durante a apresentação de Os mouriscos nos Algarves Portugueses…, num congresso internacional de História, em Tânger, fui convidado a apresentar o mesmo estudo na Universidade de Rabat, na capital de Marrocos. Não me posso, portanto, queixar de falta de feedback, tanto no domínio da literatura de ficção como no domínio da História…

Tem algum plano literário para o futuro? 
Os planos são vários, ainda que as condições não sejam as mais favoráveis. Nas próximas semanas irei publicar um novo trabalho intitulado Subsídios para a História do Baixo Guadiana e dos Algarves Daquém e Dalém-mar. Trata-se de um compendium que reúne 50 artigos de carácter historiográfico publicados, anteriormente, em diversos órgãos de comunicação algarvios. Em Novembro também irá sair um outro trabalho relativo à minha participação nas últimas Jornadas de História de Ayamonte, intitulado “V centenario de la fundación de Arenilha y sus relaciones com Ayamonte”. Relativamente a literatura de ficção, irei publicar em breve um conto intitulado O Sétimo Céu e as Meninas de Tânger, numa antologia de escritores do Algarve que será editada pela 4Águas Edições. Para além disso, traduzi há pouco tempo um trabalho do escritor espanhol José Luis Piquero, originalmente intitulado Mi Psicopata. Esta tradução será publicada em Portugal nos próximos meses.

1 devaneios:

Anónimo disse...

Autor complejo y sugerente con una versátil producción .

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