Autora: Claire Kendal
Edição/reimpressão: 2014
Páginas: 304
Editor: Saída de Emergência
ISBN: 9789896376680
Sinopse:
Clarissa está cada vez mais assustada com o seu colega Rafe. Ele não a deixa em paz e recusa-se a aceitar "não" como resposta. Está sempre presente.
Ser convocada para ser jurada é um alívio. A sala do tribunal é um abrigo seguro, um lugar onde Rafe não pode estar. Mas à medida que uma narrativa de rapto e violação se desenrola, Clarissa começa a ver paralelismos entre a sua situação e a da jovem na barra das testemunhas.
Se quer sobreviver, Clarissa terá que expor o seu perseguidor. Ao desenredar o macabro e perverso conto de fadas que Rafe teceu em torno deles, descobre que o final que ele visiona é mais aterrador do que ela poderia alguma vez imaginar.
Mas como é que alguém pode proteger-se de um inimigo que mais ninguém consegue ver?
Opinião:
Dramas psicológicos? Contem comigo! É um dos meus géneros literários favoritos e se bem escritos prendem-me do início ao fim. Crio inúmeras teorias e tento juntar todas as peças a fim de compreender como será o final da narrativa e esse foi o grande motivo para começar a ler este livro. Só olhando para o título a curiosidade já tinha vencido. E ao ler a sinopse não consegui de forma alguma resistir.
Clarissa gosta da sua vida. Tem um bom trabalho, uma vida sossegada e tudo parecia correr na perfeição até começar a receber atenções indesejadas de um dos seus colegas de trabalho. Rafe é uma pessoas muito estranha. Sempre atento a todos os gestos de Clarissa, esta começa a ficar ainda mais assustada quando repara na perseguição constante e na criação de uma história juntos que não existia.
Quando Clarissa é escolhida como jurada num julgamento de assédio, violação e assassínio, fica feliz por conseguir alguns dias fora do seu local de trabalho e longe de Rafe, que está mais estranho que nunca. Mas quando começa a encontrar Rafe encostado à sua porta de casa logo de manhãzinha, encontrando-o nos mesmos sítios por onde é costume passar, compreende que tudo é pior do que inicialmente pensava. Rafe não a perseguia apenas no trabalho, Rafe sabia como ela reagia a tudo na sua vida, os seus lugares favoritos, a sua rotina diária. Decidida a juntar o maior número de provas possíveis antes de fazer o que quer que fosse, Clarissa começa a viver num verdadeiro inferno, acabando por compreender que o caso a que assistia como jurada acabava por ser muito parecido com o dela, acabando este em homicídio...
Para começar acho que a editora não deveria ter comparado este romance ao Em Parte Incerta. Verdade, é um livro negro em que se acaba por encontrar personagens que acham que aqueles que "amam" lhes pertencem, mas é totalmente diferente. A autora de Diário de uma Obsessão tem uma escrita fluída, negra e que prende o autor de uma ponta ao outro, tendo sido muito inteligente da sua parte intercalar entre o diário que Clarissa mantinha, para ter fresco na memória todas as loucas ações que partiam de Rafe, e uma narrativa mais distante em que seguimos Clarissa como um mero espetador e não na sua pele.
Além deste truque inteligente, a autora conseguiu adoptar outro que gostei ainda mais. Para além de seguirmos a história desesperante de Clarissa, seguimos o caso de que esta é jurada. Um caso em que uma antiga prostituta conta como foi violada e maltrata, contra a sua vontade, e quase morta. Um caso cujos advogados de acusação acabam por virar contra a mesma, fazendo-a a má da fita e a tirana em toda a história. As histórias de Clarissa e da arguida acabam por ser muitíssimo parecidas e através do que se fala e pensa no tribunal podemos ver a reação de pessoas que nunca sofreram esse tipo de abusos e perseguição contra a reação de Clarissa, que sente diariamente na pele o que é ser perseguida, vigiada e até maltratada.
Foi um livro que me surpreendeu imenso. As personagens foram extremamente bem exploradas e acabamos por conhecê-las melhor do que a nós próprios. Embora Rafe tenha sido o "mau da fita", foi uma das personagens que mais me prendeu e achei-o absolutamente maravilhoso no seu papel. A autora conseguiu criar um vilão obsessivo cujas ações acabam todas por ter um determinado fim em mente. Clarissa é uma personagem que facilmente é transferida para a vida real, podendo representar muitas mulheres que poderão sofrer do mesmo mal mas que acabam por ter receio de contar a verdade e serem elas mesmas o motivo de chacota, acabando por serem consideradas elas as culpadas por serem constantemente perseguidas e assediadas.
Uma narrativa muito bem escrita, com personagens viciantes e uma história muito obscuro mas que tem contornos baseados na realidade de muitas pessoas. Aconselho!
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