domingo, 31 de março de 2013

Alexandre Rocha [Autor Nacional do Mês]


Fale-nos um pouco sobre si.
Alexandre Rocha nasceu no Rio de Janeiro em 1977, no seio de uma família portuguesa.
Teve uma educação técnica que incluiu, no liceu, o curso de electrónica e no ensino superior, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a engenharia informática, campo onde actuou amplamente no Brasil e também no exterior.
Fez o caminho inverso dos seus pais e avós e chega a Portugal em 2001. Licenciou-se em Comunicação pela Universidade do Minho, tendo publicado em diversas secções do Jornal de Notícias, Correio do Minho e Diário do Minho, sem, no entanto, abandonar as actividades no ramo informático.
O interesse pela escrita despontou desde cedo, publicando o que seria o seu primeiro romance ainda na adolescência, na secção de arte e cultura da feira de tecnologia da sua escola técnica. Entre as temáticas que lhe despertam maior interesse encontram-se o ensaio, a literatura histórica, militar e também o realismo fantástico, áreas que sintetiza em «A Conspiração dos Fidalgos».
Actualmente é Gestor de Ciência e Tecnologia na Universidade do Minho, em Braga.

Como surgiu a escrita na sua vida?
Os hábitos de leitura podem e devem ser cultivados desde muito cedo. Felizmente tive pais e professores que me passaram estes valores e convenceram-me de que a leitura, cada qual na sua preferência literária, é um grande prazer. Mais Na adolescência, já na escola técnica, para desenvolver um trabalho que comecei a produzir, tive o apoio de alguém que me foi como uma pedra basilar, a minha querida professora Izabel Sodré, que foi uma das minhas primeiras mentoras e revisoras, com quem muito aprendi.

O que é que o levou a escrever este livro?
Talvez tenha começado em 1995, altura em que o cinema brasileiro experimentou um renascimento, depois de ter sido “sepultado” pelo presidente que assumiu as rédeas do país no início da década de 90, Fernando Collor. Um dos primeiros títulos foi o “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil”, um filme de Carla Camurati. Muito simples, mas de muita qualidade, que me terá motivado a saber mais sobre este período histórico. Mais tarde, pesquisando no “Real Gabinete Português de Leitura”, um autêntico tesouro incrustado no centro histórico do Rio de Janeiro, descobri um livrinho da década de 30 do século passado e que abordava a dita “Conspiração dos Fidalgos”, que será um dos poucos registos históricos que tenham restado da conjura. Achei aquilo fantástico e tomei nota, despretenciosamente. Ainda passariam muitos anos até que a “estória” visse a luz do dia…
Foi também motivante reunir temáticas distintas, para além da historiografia dita “oficial”, considerando também a realidade social de cada época: os colonos, os escravos negros e a sua religião, a corte na metrópole, e, por fim, um toque de misticismo e esoterismo, campos que também galgam a minha curiosidade.

Quais foram as suas referências e inspirações enquanto o escrevia?
«A Conspiração dos Fidalgos» é uma narrativa com duas etapas bem distintas, uma delas no sertão colonial baiano de finais do século XVIII e outra que se passa na Lisboa do início do século XIX e Invasões Napoleónicas. Muitas obras e documentos foram consultados ao longo de um tempo tão longo, mas há alguns nomes incontornáveis, como José Lins do Rego (com o seu “Menino de Engenho”) ou Gylberto Freire (“Casa Grande e Senzala”) e, na fase portuguesa, Eça de Queiróz e a sua crítica inteligente e mordaz. Eça está, sem sombra de dúvidas, no patheon dos mais ilustres escritores universais… Esta inspiração notar-se-á na profunda crítica social inserida na narrativa: a confrontação de uma sociedade consigo mesma, como disse-me uma leitora que trouxe-me um pouco das suas opiniões. A poesia de Bocage, por motivos óbvios, também esteve presente, já que o poeta é personagem do livro!

O que sentiu ao receber a resposta afirmativa de uma das editoras portuguesas?
Obviamente um foi momento de uma grande satisfação ver que são reconhecidos a qualidade do trabalho produzido, além da sua viabilidade. A editora Ésquilo é uma “casa” de renome, especialmente no género do romance histórico, tendo já editado nomes como Deana Barroqueiro, a quem tenho um enorme carinho e cujo trabalho aprecio e também foi uma fonte de inspiração.

Tem recebido feedbacks dos seus leitores?
Sim. É para mim extremamente importante este momento de recolha da crítica, porque, sem desprezar a arte pela arte, acredito que tenhamos um público leitor como alvo. A possibilidade de auscultar esta audiência é uma fonte enriquecedora de experiência e aprendizagem. Com as novas tecnologias, um livro já não é uma via de mão única e tive a preocupação de disponibilizar contactos para abrir “pontes” com o leitor.
Felizmente tenho recebido feedbacks de norte a sul, da Madeira, inclusivamente. Noto uma grande identificação com a obra em especial por parte dos leitores que tenham “experimentado” as “travessias” de Miguel Herculano, o protagonista…
«A Conspiração dos Fidalgos» teve também outra oportunidade fantástica, pois foi o livro escolhido para debate por parte do Clube de Leitura Bertrand de Braga, altura em que esta troca de impressões foi possível “em directo” com diversos leitores, o que foi muito gratificante.

Irá continuar esta aventura, premiando os seus leitores com outro livro seu?
Certamente. É do meu desejo brindar o público com uma nova “aventura”, mais actual, garantindo, porém, que estarão envolvidos os ingredientes que colaboram para o sucesso deste primeiro trabalho: o histórico, o quotidiano e o místico.

Qual é que acha que é o papel da blogosfera na divulgação literária?
Penso que é cabal a minha opinião de que as novas tecnologias e as suas modernas realidades têm um papel preponderante na difusão cultural. Na verdade, já assim o era antes, pois não é a toa que o sábio dito popular apregoa que a melhor propaganda é aquela que é feita “boca a boca”. Os clubes literários, por exemplo, sempre existiram… O que a tecnologia permitiu foi a criação de uma plataforma de massa que exponencia os resultados desta “efervescência” e leva-os a outros limites, antes impossíveis de alcançar. Os blogs literários têm, portanto, uma dimensão fundamental, ainda mais tendo a considerar a sectorização de nichos que permitem criar, redutos importantes de apreciadores dos mais diferentes géneros.
Em conclusão, julgo que os media tradicional detêm ainda um papel de divulgação importante, mas cada vez mais são complementados pela dita blogosfera, numa relação simbiótica onde todos ganham.

2 devaneios:

Visão Periférica disse...

Deixei-te um selinho em http://visaoperifericaa.blogspot.pt/2013/03/desafio-arco-iris-cores-do-romance.html :D

Anónimo disse...

Obrigada :D

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